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Jejum

 


  “Se não fizerdes penitência, todos perecereis” (Lc 13,3)


Conforme o

 " Jejum: fazer apenas uma refeição completa durante o dia e, caso haja necessidade, tomar duas outras pequenas refeições que não sejam iguais em quantidade à habitual ou completa. Não fazer as refeições habituais, nem outros petiscos durante o dia (embora, pela tradição, se possa beber algo sem açúcar). Estão obrigados ao jejum os que tiverem completado dezoito anos até os cinquenta e nove completos. Os outros podem fazer, mas sem obrigação. Grávidas e doentes estão dispensados do jejum, bem como aqueles que desenvolvem árduo trabalho braçal ou intelectual no dia do jejum." 

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Quarta-feira de Cinzas: jejum obrigatório.
Sexta-feira Santa da Paixão do Senhor: jejum  obrigatório.
Demais dias da Quaresma, exceto os Domingos: jejum recomendado.
Dias assinalados pelo calendário antigo como Sextas-feiras das Têmporas: jejum recomendado.
Dias assinalados pelo calendário antigo como Quartas-feiras das Têmporas e Sábados das Têmporas:jejum recomendado.


a partir de texto base de Dom Eugênio de Araújo Sales, Arcebispo emérito do Rio de Janeiro


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   A Quarta-Feira de Cinzas é o primeiro dia da Quaresma. As cinzas que os cristãos católicos recebem neste dia é um símbolo para a reflexão sobre o dever da conversão, da mudança de vida, recordando a passageira, transitória, efêmera fragilidade da vida humana, sujeita à morte.


  A Igreja recomenda que vivamos aquilo que ela chama de “remédios contra o pecado”  (jejum, esmola e oração), que Jesus recomendou no Sermão da Montanha (Mt 6, 1-8) e que a Igreja nos coloca diante dos olhos logo na Quarta-feira de Cinzas, na abertura da Quaresma.

  O jejum fortalece o espírito e a vontade para que as paixões desordenadas, especialmente aquelas que se referem ao corpo (gula, luxúria, preguiça), não dominem a nossa vida e a nossa conduta.

  Na Quaresma deparamo-nos de modo mais incisivo com o mandamento da Igreja de guardar o jejum, um exercício de ascese que nos ajuda a viver a temperança e a descobrir também os limites da nossa condição corporal. 

   O jejum é indispensável ao cristão para clarificar o seu espírito, despertar e desenvolver o seus sentimentos, estimular a sua vontade. Estas faculdades humanas são obscurecidas e asfixiadas principalmente pelo excesso do comer e do beber, bem como pelas preocupações desta vida; separamo-nos então de Deus, fonte de vida, e caímos na corrupção e na vaidade, desfigurando e contaminando a imagem de Deus em nós. A libertinagem e a sensualidade fixam-nos à terra e cortam, por assim dizer, as asas da nossa alma. 

  O jejum é ainda necessário ao cristão para apressarmos nosso passo em direção ao reino de Deus porque este não é um negócio de comida ou de bebida, mas de justiça, paz e alegria no Espírito Santo. 

   Comer e beber, ou seja, procurar os prazeres carnais, são só para os infelizes, para aqueles que não acreditam, que não conhecem as alegrias celestes e espirituais, que fundam toda a sua vida nos prazeres da carne. É por esta razão que o Senhor no Evangelho condena tão frequentemente esta paixão destrutiva.”



Diz São Tomás de Aquino que a prática do jejum existe
Por Três Motivos:

  • "Primeiro, para reprimir as concupiscências da carne. Donde o dizer o Apóstolo (2 Cor 6, 5): «Nos jejuns, na necessidade», porque o jejum conserva a castidade. Pois, como diz Jerônimo, «sem Ceres e Baco, Vênus esfria», é, pela abstinência da comida e da bebida a luxúria se amortece.
  • Segundo, praticamos o jejum para mais livremente se nos elevar a alma na contemplação das sublimes verdades. Por isso, refere a Escritura que Daniel (Dn 10), depois de ter jejuado três semanas, recebeu de Deus a revelação.
  • Terceiro, para satisfazer pelos nossos pecados. Por isso, diz a Escritura (Jl 2, 12): «Convertei-vos a mim de todo o vosso coração em jejum e em lágrimas e em gemido». E é o que ensina Agostinho num sermão: «O jejum purifica a alma, eleva os sentidos, sujeita a carne ao espírito, faz-nos contrito e humilhado o coração, dissipa o nevoeiro da concupiscência, extingue os odores da sensualidade, acende a verdadeira luz da castidade».
O jejum é objeto de preceito. Pois o jejum é útil para delir e coibir as nossas culpas e elevar-nos a mente para as coisas espirituais. Ora, cada um está obrigado, pela razão natural, a jejuar tanto quanto lhe for necessário para conseguir tal fim. Por onde, o jejum, em geral, constitui um preceito da lei natural. Mas, a determinação do tempo e do modo de jejuar, conforme à conveniência e à utilidade do povo Cristão, constitui um preceito de direito positivo, instituído pelos superiores eclesiásticos. E tal é o jejum da Igreja, diferente do jejum natural.

— Os tempos de jejum estão convenientemente determinados pela Igreja. O jejum é ordenado por dois motivos: para delir a culpa e para nos elevar a mente às coisas espirituais. Por isso, os jejuns foram ordenados especialmente naqueles tempos em que, sobretudo, devemos os fiéis nos purificar dos pecados e elevar a mente a Deus pela devoção. O que sobretudo se dá antes da solenidade Pascal, quando as culpas são delidas pelo batismo, celebrado solenemente na vigília da Páscoa, em memória da sepultura do Senhor; pois, pelo batismo, somos sepultados com Cristo para «morrer ao pecado», na frase do Apóstolo (Rm 6, 4). E também na festa Pascal devemos, sobretudo, pela devoção, elevar a mente à glória da eternidade, a que Cristo deu começo pela sua ressurreição. Por isso, imediatamente antes da solenidade Pascal, a Igreja nos manda jejuar; e pela mesma razão, nas vigílias das principais festividades, quando devemos nos preparar devotamente para celebrar as festas que se vão celebrar". (Ia IIae, q. CXLVII, a. 1, 3, 5. - P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae)


Disse o Papa São Leão Magno (440-461) em seu

"O que pode ser mais eficaz do que o jejum? Por sua observância nos aproximamos de Deus e, resistindo ao diabo, triunfamos da sedução dos vícios. O jejum sempre foi um alimento para a virtude. Da abstinência, enfim, procedem os pensamentos castos, a vontade reta, conselhos saudáveis; e pela mortificação voluntária do corpo, damos morte à concupiscência da carne, renovando o espírito pela prática das virtudes.
Mas como a salvação de nossas almas não é conquistada apenas pelo jejum, completemo-lo pela misericórdia para com os pobres. Seja abundante em generosidade o que retiramos ao prazer; que a abstinência dos que jejuam reverta para o alimento dos pobres. Pensemos na defesa das viúvas, no socorro dos órfãos, na consolação dos que choram, na paz aos revoltosos. Que o peregrino seja recebido, que o oprimido seja ajudado, que o nu seja vestido, que o doente seja curado, a fim de que, todos os que oferecerem o sacrifício de nossa piedade, por estas boas obras, a Deus, autor de todos estes bens, mereçam receber Dele, o prêmio do Reino Celeste." (São Leão Magno - Sermão sobre o jejum)


Disse Santo Afonso Maria de Ligório em seu livro

"Esforce-se por conceber uma grande confiança e terna devoção para com a santíssima Virgem. Sempre todos os santos têm alimentado em seus corações uma piedade filial para com a Mãe divina. Cuide de fazer todos os dias uma leitura nalgum livro, que trate das suas glórias e da confiança que devemos ter na sua poderosa proteção. Não deixe de jejuar aos sábados em sua honra, o melhor que possa, e em todas as suas novenas, pratique ao menos alguma abstinência e mortificação. Não deixe de visitar todos os dias alguma imagem sua. Quanto puder, falará da confiança que se deve ter na proteção de Maria, e procurará aos sábados fazer aos fiéis uma pequena instrução na igreja, para os afervorar na devoção a esta compassiva Soberana. Pelo menos, fale dela em cada um dos seus sermões, e recomende a mesma devoção a todos os seus penitentes, assim como a todas as demais pessoas que possa. Quanto mais se amar a Maria, tanto mais se amará a Deus; porque Maria atrai a Deus os que a amam."(Santo Afonso Maria de Ligório - A Selva)

Quadro Quarta-feira de Cinzas
Obra do pintor alemão
Carl Spitzweg