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Das Adversidades

Retirado do livro
Pe. de La Colombière
Excertos
 Livro de 1934 - 54 págs
(Em breve este livro estará no Alexandria Católica)

Para conhecer a vida de São Cláudio de La Colombière CLIQUE AQUI


Das Adversidades
(De como são úteis aos justos e necessárias aos pecadores)

Vede essa terna mãe que por mil carícias trata de acalmar os gritos do filho, que o rega com suas lágrimas, enquanto lhe aplicam o ferro e o fogo; desde que aquela dolorosa operação se faz a seus olhos e por sua ordem, quem pode duvidar de que aquele remédio violento não deva ser extremamente útil àquela criança, e que ela não deva encontrar nele uma saúde perfeita, ou ao menos o alívio duma dor mais viva e mais longa?

Da Submissão à Vontade de Deus

Retirado do livro
Pe. de La Colombière
Excertos
 Livro de 1934 - 54 págs
(Em breve este livro estará no Alexandria Católica)

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Da Submissão à Vontade de Deus

Uma das verdades mais bem estabelecidas e das mais consoladoras que jamais nos tenham sido reveladas é que, com ressalva do pecado, nada nos sucede na terra senão porque Deus o quer; é Ele quem dá as riquezas e é Ele quem envia a pobreza; se estais doente, Deus é a causa do vosso mal; se haveis recuperado a saúde, foi Deus quem vo-la restituiu; se viveis, é unicamente a Ele que deveis tão grande bem; e quando a morte vier terminar a vossa vida, será da mão Dele que recebereis o golpe mortal.
Mas, quando os maus nos perseguem, é então a Deus que o devemos imputar? Sim, cristãos ouvintes, é ainda a Ele que deveis então acusar unicamente do mal que sofreis. Ele não é causa do pecado que comete o vosso inimigo maltratando-vos, mas é causa do mal que esse inimigo vos faz pecando. Esse homem injusto é como uma torrente que, do alto dum rochedo, vem despenhar-se num vasto campo. Não é o lavrador que dá a essa torrente rápida o movimento que a arrasta, mas é o lavrador quem, ora rompendo um dique, ora tapando um valado ou levantando uma represa, lhe faz entrar as águas num campo antes que em outro, quer pretenda adubar, quer pretenda desolar por esse meio aquele campo. Ou se preferis, aquele mau homem é nas mãos de Deus como um veneno nas mãos dum artista hábil: não foi o artista que deu àquela erva ou àquele mineral a virtude maligna que lhes é própria, mas foi ele quem as misturou na beberagem que vos apresenta, quer tenha o intento de vos dar a morte, quer talvez o de vos restituir a saúde. Assim, não foi Deus quem inspirou ao vosso inimigo a má vontade que tem de vos prejudicar, mas foi Ele quem lhe deu o poder, foi Ele quem fez voltar sobre vós a malícia daquela pessoa, quem dispôs as coisas de tal sorte que ele se tenha achado em estado de perturbar o vosso repouso, que o tenha efetivamente perturbado. O Senhor quis que caísseis na cilada, já que não a evitou, já que prestou mesmo mão aos que vo-la armavam; é Ele que vos entrega sem defesa aos vossos inimigos, e foi Ele que dirigiu, por assim dizer, todos os golpes que eles vos desfecharam. Não duvideis: se recebeis alguma chaga, foi o próprio Deus quem vos feriu. Quando todas as criaturas se ligassem contra vós, se o Criador não quisesse, se se lhes não juntasse; se lhes não desse tanto as forcas como os meios de executar os seus maus desígnios, nunca o conseguiriam: Não teríeis nenhum poder sobre mim se ele vos não fosse dado do alto, dizia o Salvador do mundo a Pilatos. Nós podemos dizer outro tanto aos homens como aos demônios, mesmo às criaturas que são privadas de razão e de sentimento. Não, vós não me afligiríeis, não me prejudicaríeis como fazeis, se Deus não vo-lo tivesse ordenado; é Ele quem vos envia, é Ele quem vos dá o poder de me tentardes e de me fazerdes sofrer: Não teríeis nenhum poder sobre mim, se ele não vos tivesse sido dado do alto.
Se de quando em quando meditássemos seriamente este artigo da nossa crença, não seria preciso mais para abafar as nossas murmurações em todas as perdas, em todas as infelicidades que nos acontecem. Era o Senhor que me tinha dado todos aqueles bens, foi Ele mesmo quem mos tirou; não foi nem aquela parte, nem aquele juiz, nem aquele ladrão quem me arruinou, não foi aquela mulher que me denegriu a reputação com as suas maledicências; se esse menino morreu, não foi nem por ter sido maltratado, nem por ter sido mal servido; foi Deus, a quem tudo aquilo pertencia, quem não me quis deixar fruir dele por mais tempo.
É, pois, uma verdade de fé que Deus conduz todos os acontecimentos de que a gente se queixa no mundo; e, demais, não podemos duvidar de que todos os males que Deus nos manda nos sejam utilíssimos: não podemos duvidá-lo sem suspeitar a Deus de carecer de luz para discernir o que é vantajoso.
É prova dum orgulho insuportável, diz são Basílio, que nos próprios negócios a gente não necessita de tomar conselho de ninguém, e que tem por si mesmo bastante prudência para escolher o melhor partido. Mas, se nas coisas que nos dizem respeito qualquer outro vê melhor do que nós aquilo que nos é útil, que loucura pensar que o vemos melhor do que Deus mesmo, Deus que é isento das paixões que nos cegam, que penetra o futuro, que prevê os acontecimentos e o efeito que cada causa deve produzir! Sabeis que os acidentes mais molestos têm às vezes felizes consequências, e que, ao contrário, os sucessos mais favoráveis podem finalmente terminar em funestos desfechos. É mesmo uma regra que Deus observa assaz comumente, ir aos seus fins por vias inteiramente opostas às que a prudência humana costuma escolher.
Na ignorância em que estamos do que deve acontecer no futuro, como então ousamos murmurar daquilo que sofremos pela permissão de Deus! E mesmo por simples vantagens deste mundo, quantos exemplos não temos desse proceder! Vendem José, trazem-no em servidão, lançam-no numa prisão: ele se aflige das suas desditas aparentes, aflige-se com efeito da sua felicidade, pois são outros tantos degraus que o elevam insensivelmente ao trono do Egito. Saul perdeu as mulas de seu pai, tem que as ir buscar muito longe e muito inutilmente: é muito tempo e muito trabalho perdido, é certo; mas se essa mágoa o aflige, jamais houve pesar tão desarrazoado, visto que tudo aquilo só foi permitido para o conduzir ao profeta que o deve ungir da parte do Senhor, para ser o rei de seu povo. Qual não há de ser a nossa confusão, quando comparecermos perante Deus, quando virmos as razões que Ele terá tido de nos mandar essas cruzes que nós tão mal lhe agradecemos! Eu lamentei a perda daquele filho único morto na flor da idade: ai! Se Ele tivesse vivido ainda alguns meses, alguns anos, teria perecido da mão dum inimigo, teria morrido em pecado mortal. Eu não me pude consolar do rompimento daquele casamento: se Deus tivesse permitido que ele se concluísse, eu iria passar os meus dias no luto e na miséria. Devo trinta ou quarenta anos de minha vida àquela doença que sofri com tanta impaciência. Devo a minha salvação eterna àquela confusão que me custou tantas lágrimas. Minha alma estaria perdida, se eu não tivesse perdido aquele dinheiro. Com que nos embaraçamos, cristãos ouvintes? Deus se encarrega da nossa direção, e nós estamos na inquietude! Abandonamo-nos à boa fé dum médico porque supomos que ele entende da sua profissão; ele ordena que vos façam as operações mais violentas, às vezes até que vos abram o crânio com o ferro: ali, que vos furem o corpo; aqui que vos cortem um membro para deter a gangrena que poderia enfim chegar até ao coração; a gente sofre tudo isso, fica-lhe agradecido, recompensa-o liberalmente, porque julga que ele não o faria se o remédio não fosse necessário, porque julga que cumpre fiar-se na sua arte; e não queremos fazer a mesma honra ao nosso Deus! Dir-se-ia que desconfiamos da sua sabedoria e que tememos que ele nos transvie! Que? Entregais vosso corpo a um homem que se pode enganar e cujos menores erros vos podem tirar a vida, e não vos podeis submeter à conduta do Senhor!
Se nós víssemos tudo o que Ele vê, quereríamos infalivelmente tudo o que Ele quer; haviam-nos de ver pedir-lhe com lágrimas as mesmas aflições que tratamos de desviar pelos nossos votos e pelas nossas preces. Por isto, é a nós todos que Ele diz nas pessoa dos filhos de Zebedeu: Nescitis quid petitis; homens cegos, a vossa ignorância me faz pena, não sabeis o que me pedis; deixai-me cuidar dos vossos interesses, conduzir-vos à fortuna; Eu conheço o que vos é necessário, melhor do que vós mesmos; se até aqui eu tivesse levado em conta os vossos sentimentos e os vossos gostos, já estaríeis perdidos sem recurso.
Mas quereis, cristãos ouvintes, quereis ficar persuadidos de que em tudo o que Deus permite, em tudo quanto vos sucede, não tem Ele em mira senão as vossas verdadeiras vantagens, a vossa felicidade eterna? Fazei um momento de reflexão sobre tudo o que Ele há feito por vós. Estais agora na aflição: pensai que quem é o autor dela é Aquele mesmo que quis passar toda a sua vida nas dores para vo-las poupar eternas; que é Aquele cujo anjo está sempre ao vosso lado, velando por sua ordem sobre todos os vossos caminhos, e se aplicando a desviar tudo o que vos possa ferir o corpo ou manchar a alma; pensai que quem vos expõe a essa pena é Aquele que nos nossos altares ora incessantemente e se sacrifica mil vezes ao dia para expiar os vossos crimes e aplacar a cólera de seu Pai, à medida que O irritais; que é Aquele que vem a vós com tanta bondade no sacramento da eucaristia; Aquele que não tem prazer maior do que conversar convosco, do que se unir a vós. Que ingratidão, após tamanhas provas de amor, desconfiar ainda Dele, duvidar de se é para nos prejudicar ou para nos fazer bem que Ele nos visita! Mas Ele me fere cruelmente, faz pesar a Sua mão sobre mim. E que temeis duma mão que foi transfixada, que se deixou pregar na cruz por vós? Ele me faz andar por um caminho espinhoso. Se não há outro para ir ao céu, ai de vós se preferis perecer para sempre a sofrer por um tempo! Não foi esse mesmo caminho que Ele seguiu, antes de vós e por amor de vós? Achais acaso Nele um espinho que Ele não tenha marcado, que não tenha enrubescido com o seu sangue?
Ele me apresenta um cálice cheio de amargura. Sim, mas pensai que é o vosso Redentor que vo-lo apresenta; amando-vos tanto quanto vos ama, poderia resolver-se a tratar-vos com rigor se não houvesse uma utilidade extraordinária ou uma urgente necessidade? Ouvistes falar daquele príncipe que preferiu expor-se a ser envenenado, a recusar a bebida que seu médico lhe receitara, porque reconhecera sempre naquele médico muita fidelidade e muito apego à sua pessoa; e nós, cristãos ouvintes, nós recusamos o cálice que Nosso Divino Mestre nos preparou Ele próprio, atrevemo-nos a ultrajá-lo até esse ponto! Rogo-vos não esquecerdes esta reflexão; ela basta, se me não engano, para nos fazer aceitar, para nos fazer amar as disposições da vontade divina que nos parecem mais incômodas, e nos conformarmos desse modo com essa vontade suprema; é, aliás, assegurar infalivelmente a nossa felicidade, mesmo desde esta vida.
Eu suponho, por exemplo, que um cristão está liberto de todas as ilusões do mundo, pelas suas reflexões e pelas luzes que recebeu de Deus; que reconhece que tudo não passa de vaidade; que nada lhe pode encher o coração; que aquilo que há desejado com mais afã é muitas vezes fonte dos mais mortais pesares; que a gente custa a distinguir o que nos é útil e o que nos é contrário, por isto que o bem e o mal estão quase por toda a parte misturados, e porque aquilo que ontem era o mais vantajoso é hoje o pior; que os seus desejos só fazem atormentá-lo; que os cuidados que emprega para lograr êxito o consomem e até lhe prejudicam às vezes os desígnios, ao invés de os adiantar; que, ao cabo de tudo, é uma necessidade que a vontade de Deus se cumpra; que nada se faz senão por suas ordens, e que Ele nada pode ordenar a nosso respeito que não nos reverta em vantagem.
Após todas essas vistas, suponho ainda que ele se lance nos braços de Deus como às cegas; que se lhe entregue, por assim dizer, sem condição e sem reserva, inteiramente resolvido a confiar Nele para tudo, e nada mais desejar, nada mais temer, numa palavra, nada mais querer senão aquilo que Ele quiser; digo que, desde esse momento, essa feliz criatura adquire uma liberdade perfeita, que não pode mais nem ser molestada nem constrangida; que não há autoridade, não há poder na terra que seja capaz de lhe fazer violência ou de lhe dar um momento de inquietação.
«Como me quereis obrigar a fazer o que eu não quero? dizia um santo homem cujos sentimentos são referidos. Seria preciso poder constranger o próprio Deus, para me pôr no caso de fazer algo contra minha vontade; porque, enquanto Deus fizer tudo o que quiser, eu não posso deixar de ser perfeitamente livre, visto que só quero o que Ele faz. Deus quer que eu adoeça? Pois a moléstia me é mais agradável do que a saúde; que eu seja pobre? Pois eu não queria ser rico; que eu seja o repúdio de todos? Consinto que toda a gente me despreze, fundo toda a minha glória nos seus desprezos. Importa que eu viva aqui ou alhures, que eu passe os meus dias no repouso ou na trica dos negócios, que morra na flor ou no declínio da idade? De tudo isso eu não poderia dizer o que gosto mais; mas, desde que Deus tiver feito a sua escolha, e me tiver feito conhecer para que lado pende o seu coração, o meu seguirá esse pendor, e achará nele a sua felicidade.»
Mas não é uma quimera um homem em quem os bens e os males fazem uma igual impressão? Não, não é uma quimera; conheço pessoas que estão igualmente contentes na moléstia e na saúde, nas riquezas e na indigência; algumas conheço mesmo que preferem a indigência e a moléstia às riquezas e à saúde.
De resto, não há nada tão verdadeiro como o que vos vou dizer: tanta submissão temos à vontade de Deus, tanta condescendência tem Ele para com as nossas vontades. Parece que, desde que a gente se apega unicamente a lhe obedecer, Ele próprio só cuida de nos satisfazer: não só ouve as nossas preces, mas até as previne; vai buscar até no fundo do coração aqueles mesmos desejos que a gente trata de sufocar para lhe aprazer, e os realiza, cumula-os, excede-os todos.
Enfim a ventura daquele cuja vontade é submissa à vontade de Deus é uma ventura constante, inalterável, eterna. Temor algum lhe perturba a felicidade, porque acidente algum a pode destruir. Eu mo represento como um homem sentado num rochedo no meio do oceano: vê virem a ele as mais furiosas vagas sem ficar atemorizado, acha prazer em considerá-las e contá-las, à medida que elas se lhe veem quebrar aos pés; quer o mar esteja calmo ou agitado, quer o vento empurre as ondas para um lado ou para outro, ele fica igualmente imóvel, porque o lugar em que se encontra é firme e inabalável.
Vem daí essa paz, essa calma, esse semblante sempre sereno, esse ânimo sempre igual que notamos nos verdadeiros servos de Deus. Que razão não tendes, almas santas, de ser sem inquietações? Achastes na vontade do vosso Deus um retiro inacessível a todas as desditas da vida; elevaste-vos muito acima da região das tempestades: não há dardo que possa chegar até lá. Não podeis temer nem os homens nem os demônios. Façam o que fizerem, suceda o que suceder, sereis sempre felizes, ou então o próprio Deus deixará de sê-lo.
Resta ver como é que poderemos atingir essa venturosa submissão. Isto só se pode fazer, senhores, pela experiência frequente dessa virtude; e por isto que as grandes ocasiões de praticá-la são raras, todo o segredo consiste em aproveitar as pequenas, que são diárias, e cujo bom uso em breve nos porá em estado de sustentar os maiores revezes sem sermos abalados. Não há ninguém a quem cada dia não aconteçam cem pequenas coisas contrárias aos seus desejos e inclinações, seja que no-las atraia a nossa imprudência ou nosso pouco espírito, seja que elas nos venham da inconsideração ou da malignidade alheia, seja enfim que constituam um puro efeito do acaso ou do concurso imprevisto de certas causas necessárias. Toda a nossa vida é semeada dessas sortes de espinhos, que nos nascem incessantemente debaixo dos pés, que produzem no nosso coração mil frutos amargos, mil movimentos involuntários de ódio, de inveja, de temor, de impaciência, mil pequenas mágoas passageiras, mil ligeiras inquietações, mil perturbações, que, ao menos por um momento, alteram a paz da alma. Escapa-nos, por exemplo, uma palavra que não quiséramos ter dito, dizem-nos outra que nos ofende, um criado vos serve mal ou com vagarosidade, uma criança vos incomoda, um estorvante vos faz parar, um estouvado vos encontrou, um cavalo vos cobre de lama, faz um tempo que vos desagrada, a vossa obra não vai como desejaríeis, um pequeno móvel se quebra, uma roupa se mancha ou se rasga; eu sei que não há aí em que exercer uma virtude bem heroica, mas digo que seria o bastante para adquiri-la infalivelmente se o quiséssemos; digo que todo o que estivesse alerta para oferecer a Deus todas essas contrariedades, e para aceitá-las como ordenadas pela sua providência, esse homem, além de adquirir por essa prática grande número de méritos, além de se dispor insensivelmente a uma união muito íntima com Deus, seria ainda, em pouco tempo, capaz de aguentar os mais tristes e os mais funestos acidentes da vida.
A este exercício, que é tão fácil, e não obstante mais útil para nós e mais agradável a Deus do que vos posso dizer, pode-se ajuntar ainda outro. Embora as grandes desgraças não aconteçam todos os dias, pode-se a gente oferecer a Deus todos os dias para aturá-las quando lhe aprouver. Se Deus vos quisesse tirar ou aquele filho ou aquele marido, se permitisse que perdêsseis aquele processo ou aquele dinheiro que colocastes, precisaríeis duma grande forca de espírito para suportar esses golpes tão rudes. Não sabeis ainda qual será a vontade Dele sobre esses pontos; preveni-lhe as ordens, e desde agora submetei-vos a tudo quanto Ele resolveu fazer; renunciai com frequência em sua presença a todos os desejos que podeis ter de aumentar ou de conservar os vossos bens, a vossa saúde, a vossa reputação, e protestai-lhe que estais pronto a lhe sacrificar tudo. Pensai todos os dias, desde a manhã, em tudo quanto vos pode suceder de mais molesto durante o curso do dia. Pode suceder que no correr do dia tragam a notícia dum naufrágio, duma bancarrota, dum incêndio; talvez que antes da noite recebais alguma afronta pesada, alguma sangrenta confusão; talvez que a morte vos roube a pessoa do mundo que mais amais; não sabeis se vós mesmo não morrereis subitamente e duma maneira trágica. Aceitai todas essas desgraças no caso que praza a Deus permiti-las, coagi a vossa vontade a consentir nesse sacrifício, e não vos deis trégua enquanto não a sentirdes disposta a querer ou a não querer tudo o que Deus pode querer ou não querer.
Enfim, quando uma dessas desditas se fizer efetivamente sentir, em lugar de perderdes tempo em vos queixardes ou dos homens ou da fortuna, ide lançar-vos prontamente aos pés do Divino Mestre, para lhe pedir a graça de suportar com constância aquele infortúnio. Um homem que recebeu uma chaga mortal, se é prudente, não corre atrás de quem o feriu. Vai primeiro ao médico que o pode curar. Mas quando, em tais conjunturas, buscásseis o autor dos vossos males, seria ainda a Deus que cumpriria ir, pois só Ele lhes pode ser a causa.
Ide, pois, a Deus, mas ide prontamente, ide na mesma hora, seja o primeiro de todos os vossos cuidados: ide levar-Ihe, por assim dizer, a flecha que Ele vos atirou, o flagelo de que se serviu para vos provar. Beijai mil vezes as mãos do Vosso Senhor crucificado, essas mãos que vos feriram, que fizeram todo o mal que vos aflige. Repeti-lhe muitas vezes estas palavras que Ele próprio dizia a seu Pai no forte da sua dor: Senhor, faça-se a vossa vontade, e não a minha. Eu vos bendigo mil vezes, eu vos dou graças de que as vossas ordens se cumpram sobre mim; e quando estivesse em meu poder resistir-lhes, eu continuaria a me submeter a elas. Aceito esta calamidade em si mesma como em todas as suas circunstâncias; não me queixo nem do mal que sofro, nem das pessoas que me causam, nem do modo por que ele veio até mim, nem da conjuntura do tempo ou do lugar em que ele me surpreendeu ; estou certo de que o quisestes sob todos esses pontos de vista, e gostaria mais de morrer do que de me opor no que fosse à Vossa Vontade: Fiat voluntas tua... Sim, meu Deus, em tudo o que quiserdes de mim, hoje e por todos os tempos, no céu e na terra, faça-se essa vontade, mas faça-se na terra como se cumpre no céu.

Mas lembre-se de citar a fonte.
Salve Maria!

Para relembrar.... EM QUE CONSISTE A PERFEIÇÃO CRISTÃ

Do Livro
D. Lorenzo Scúpoli

Capítulo I
Para conquistá-la é preciso combater.
Quatro coisas necessárias para este combate

Se queres, filha amantíssima em Cristo, alcançar o cume da perfeição, chegar ao teu Deus, e te unires a Ele – empreendimento mais nobre que quantos outros se possam imaginar – deve primeiro conhecer em que consiste a verdadeira vida espiritual.
Muitos, sem pensar, julgam que ela consiste na austeridade de vida, no castigo da carne, nos cilícios, nos açoites, nas longas vigílias, nos jejuns, em outras penitências e fadigas corporais.
Outras pessoas, mulheres especialmente, pensam ter chegado a grande perfeição, quando rezam muito, ouvem muitas missas e longos ofícios, frequentam as Igrejas e a Sagrada Comunhão.
Outros, ainda, e entre eles, certamente muito religioso de convento, chegaram à conclusão de que a perfeição consiste na frequência ao coro, no silêncio, na solidão e na disciplina.
E assim variam as opiniões, e uns colocam a perfeição nisto e outros, naquilo.
A verdade, porém, é muito outra. Tais ações são, às vezes, meios de adquirir o espírito, e, às vezes, frutos do espírito. Não se pode, porém, dizer que somente nestas coisas consista a perfeição cristã e o verdadeiro espírito.
Sem dúvida são poderosíssimos meios para o espírito, quando delas nos utilizamos com discrição. Dão força à nossa alma contra a nossa maldade e fragilidade; fortalecem-na contra os assaltos e as insídias do inimigo; alcançam-nos auxílios espirituais, tão necessários aos servos de Deus, máxime aos que principiam.
Estas práticas são também fruto do espírito, nas pessoas espirituais que castigam o corpo, por ter este, ofendido o Criador e recolhem-se longe do mundo para se dedicarem ao serviço divino e não ofenderem em nada o Senhor. Dedicam-se ao culto divino e às orações, meditam a Vida e a Paixão de Nosso Senhor, não por curiosidade e gosto sensível, mas para conhecerem sempre mais a própria maldade, a bondade e misericórdia de Deus, e mais se inflamarem no amor divino e no ódio de si mesmo. Seguem com grande abnegação, e com sua cruz às costas, o Filho de Deus, frequentam os santos sacramentos, para a glória de sua Divina Majestade, para mais se unirem com Deus e para adquirirem novas forças contra o inimigo.
Se, porém, põe todo o fundamento de sua virtude nas ações exteriores, estas ações, por não serem defeituosas, pois são santíssimas, mas pelo defeito de quem as usa, serão às vezes, mais que os próprios pecados, a causa de sua ruína. Pois estas almas apenas prestam atenção às suas ações, largam o coração às suas inclinações naturais e ao demônio oculto. Este, reparando já estar aquela alma fora do caminho, deixa-a continuar com deleites naqueles exercícios e embala-a com o pensamento das delícias do paraíso. A alma logo se persuade já estar nos coros angélicos e possuir Deus em sua alma. Embevecendo-se em altas meditações, em curiosos e deleitantes pensamentos, e, quase esquecida do mundo e das criaturas, pensa estar no terceiro céu.
Está, porém, envenenada e longe da perfeição. Pela vida e pelos costumes destas pessoas, muito facilmente poderemos deduzi-lo.
Querem sempre, nas coisas pequenas e nas grandes, ser os preferidos. Querem que sua opinião e sua vontade sejam sempre respeitadas. Não reparam nos próprios defeitos e observam e criticam os defeitos do outros. Querem que os outros façam dele excelente juízo e se comprazem nisto. Mas se tocas de leve em sua reputação, ou se falas da devoção que exibem, logo se alteram e muito se inquietam.
E se Deus, para levá-los ao conhecimento verdadeiro deles mesmos e ir à estrada da perfeição, manda-lhes trabalhos e enfermidades, ou permite perseguições (que nunca vêm sem a vontade divina, que, às vezes, o permite, e são a pedra de toque com que Ele examina a lealdade de seus servos), então se descobre a base falsa da sua devoção. Vê-se que tem o interior corrompido pela soberba, porque, nas diversas circunstâncias, sejam alegres ou tristes, não se humilham perante a vontade divina, respeitando os justos e secretos juízos de Deus. Nem a exemplo de Jesus Cristo abaixam-se perante as criaturas, têm por amigos caros, os perseguidores, e entendem que eles são instrumentos da divina bondade e meios de mortificação, de perfeição e de salvação.
Estes estão em grave perigo de cair, porque têm o olhar interno obscurecido. É com este olhar que contemplam a si mesmos e suas obras externas boas, atribuindo-se muitos graus de perfeição. E, ensoberbecidos, julgam os outros.
A não ser um auxílio extraordinário de Deus, nada os converterá.
Por isso, mais facilmente se converte e se dá ao bem, o pecador manifesto, que o oculto e coberto com o manto das virtudes aparentes.
Vês, pois, claramente, que a vida espiritual, como declarei acima, não consiste nestas coisas.
A virtude outra coisa não é, senão o conhecimento da bondade e grandeza de Deus, e da nossa nulidade e inclinação ao mal; o amor de Deus e o ódio de nós mesmos; a sujeição, não somente a Ele, mas, por seu amor, a toda a criatura; o desapropriamento da nossa vontade e o acatamento total de suas divinas disposições; por fim querer e fazer tudo isso, para a glória de Deus, para seu agrado, e porque Ele quer e merece ser amado e servido.
Esta é a lei do amor, expressa pela mão de Deus nos corações de seus servos fiéis.
Esta é a negação de nós mesmos, que Ele exige de nós. Este é o jugo suave e o ônus leve.
Esta é a obediência a que nosso divino Redentor e Mestre nos chama com sua voz e com seu exemplo.
Se aspiras a tanta perfeição, deves fazer contínua violência a ti mesma, para combateres generosamente e aniquilar todas as tuas vontades, grandes e pequenas. Para isso é necessário que, com grande prontidão de ânimo, te aparelhes para esta batalha, pois só é coroado o soldado valoroso.
Este combate é difícil, mais que nenhum outro, pois combatemos contra nós mesmos. Por maior, porém, que seja a batalha, mais gloriosa, e mais cara a Deus, será a vitória.
Se tratares de sufocar todos os teus apetites desordenados, teus desejos e vontades, mesmo muito pequenas, maior serviço farás a Deus do que se te flagelares até o sangue, jejuares mais que os antigos eremitas e anacoretas, converteres milhares de almas, guardando vivos, voluntariamente, alguns destes apetites.
Naturalmente, o Senhor aprecia mais a conversão das almas do que a mortificação de uma pequenina vontade. Apesar disto, não deves querer nem obrar, senão aquilo que o Senhor restritamente quer de ti. E sem dúvida Ele mais se compraz em que te canses em mortificar as tuas paixões do que em O servires em algum trabalho, por grande e necessário que seja, guardando viva em ti, advertida e voluntariamente, alguma paixão.

Agora que vês, filha, em que consiste a perfeição cristã e como, para a conquistar é preciso empenhar uma contínua e duríssima guerra contra ti mesma, necessitas de quatro coisas como armas seguríssimas e muito necessárias, para vencer nesta batalha espiritual.
São as seguintes:
A desconfiança em ti mesma, a confiança em Deus, o exercício e a oração.
Com a ajuda divina, algo diremos, sucintamente, sobre estes assuntos.

As Sete Portas do Inferno - Sétima Porta

Excerto do Livro
Pe. Guilherme Vaessen
Livro de 1953

Sétima Porta do Inferno
O Espiritismo



O espiritismo consiste em pretensas ou verdadeiras comunicações com os espíritos do outro mundo, ou as almas dos defuntos, para descobrir coisas secretas relativas a esta ou à outra vida.
Digo comunicações pretensas, supostas, porque é sabido que grande número de médiuns, isso é, de pessoas de que se servem os espíritos para receberem as respostas dos espíritos ou das almas, os profissionais Do espiritismo, têm sido convencidos de fraude. Noventa por cento pelo menos dos casos de comunicações espíritas são vergonhosas trapaças.
Digo, em segundo lugar, comunicações verdadeiras, porque sábios verdadeiros e conscienciosos têm verificado a verdade de certas comunicações, de sorte que forçoso é admitir que nem tudo é fraude.
Por conseguinte, às vezes há espíritos que se comunicam. A questão é esta: a que espíritos devem ser atribuídas estas comunicações? Em outras palavras: quem é o espírito que se manifesta? Não são almas dos defuntos. O dogma católico admite, para as almas que passaram os umbrais da eternidade, dois estados definitivos e um intermediário, mas passageiro. Ou elas estão no inferno, ou no céu, ou no purgatório. Ora, em qualquer estado destes em que elas se achem, não está na possibilidade delas aparecerem a quem as evoca. As do inferno estão presas pela corrente da justiça divina, que fixou a sua desgraçada sorte para a eternidade e deste horrendo calabouço, de que os demônios são guardas, elas não podem sair, senão em caso muito extraordinário, por especial providência de Deus. As que estão no céu, no purgatório, estão em perfeita conformidade à vontade de Deus, e, portanto, nunca elas se manifestam senão por fins altíssimos, dignos da infinita sabedoria de Deus, como auxiliar com preces e santos sacrifícios essas almas, ou converter algum pecador. A regra geral que Deus tem estabelecido para as almas que passam desta para a outra vida é que: “o espírito vai e não volta.”
Não são as almas que se manifestam. É o demônio. A prova é que na maioria dos casos estas comunicações tendem ao erro e à falsidade, que é o caráter próprio daquele que tem o título “pai da mentira”. Sem dúvida, há às vezes algumas verdades enunciadas, mas é para mais facilmente induzir ao erro. Assim dirão que há purgatório, mas que não há inferno — que fulano está no inferno, mas que a condenação não é eterna. Outras vezes são respostas ambíguas e contraditórias. Para um católico não pode haver dúvida, é o demônio. Acrescentemos o que em mais de uma circunstância se tem dado; e é que se algum dos circunstantes se acha munido de água benta, um crucifixo, uma medalha, o espírito ou fica mudo ou dá respostas incoerentes.
Vejamos, aliás, quais as consequências resultantes do espiritismo, para mais vermos
a intervenção diabólica, porque pelos efeitos melhor se conhece a causa. Uma das consequências que mais avultam é a loucura. É um fato notório. O diretor do Hospício dos Alienados Pedro II, no Rio, declarou, há anos passados, que sessenta e cinco por cento dos alienados eram vítimas do espiritismo.
Que dizer do suicídio? Quem ignora que os tenha havido e só motivados por esta causa? Quantos desgraçados entre estes cegos a quem Satanás leva pelo cabresto até esta última cegueira! Quanto às imoralidades praticadas muitas vezes em certas reuniões espíritas, delas nem convêm falar. Há outras consequências, doutra ordem mais transcendente e é que o espiritismo impele seus adeptos à heresia e ao erro. É principalmente entre os espíritas que se encontram os que negam a divindade de Jesus Cristo, da confissão, da Igreja; os que ridicularizam as práticas religiosas, aprovam o ensino ateu.
Basta! Fica claro e evidente que as pessoas que se entregam a estas práticas cometem   pecado   mortal   não   só   porque desobedecern à Igreja, que as proíbe, mas também porque procuram põe-se em comunicação com o espírito das trevas, o inimigo de
Deus, o que é proibido pela Sagrada Escritura : “Entre ti não se achará... quem pergunte a um espírito divinatório nem aos mortos
.”  (Deut  18, II).
Os espíritas são hereges porque negam verdades reveladas e aderem a erros condenados, renunciando, desta arte, ao título de católicos. Estão fora da Igreja; se não renunciarem a estas práticas não se salvam.

A Oração

Há um inferno, suplícios eternos. É horroroso, mas é certo. A porta do inferno é o pecado mortal. Há também um céu, morada de Deus, mansão dos anjos e santos, uma glória,  uma   felicidade   eternas.   A chave de ouro do céu é a oração. Quereis evitar o inferno, merecer o céu, é absolutamente necessário REZAR...


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As Sete Portas do Inferno - Sexta Porta

Excerto do Livro
Pe. Guilherme Vaessen
Livro de 1953

Sexta Porta do Inferno
O Protestantismo



O protestantismo é inimigo jurado da nossa Santa Religião. Nega os dogmas mais santos: o Santo Sacrifício da Missa, a Confissão, a Comunhão, a maior parte dos sacramentos, a existência do purgatório, a instituição Divina da Igreja, a autoridade do Papa, a legitimidade do culto dos santos. Neste particular vai até a caluniar aos católicos, dizendo que adoram os santos, as imagens. Não, mil vezes não! Não adoramos os santos. Adoramos só a Deus. Quanto aos santos, nós os honramos, pedimos sua proteção junto de Deus. Honramos as imagens como sendo os retratos dos santos. Que mal haverá nisso? Não podemos honrar o retrato de um pai, de uma mãe, de um benfeitor, colocá-lo em nossa sala, no lugar de honra? Se Deus, outrora, proibiu aos judeus que tivessem imagens, é porque os judeus habitavam no meio de idólatras e estavam expostos a cair na idolatria. Foi uma medida disciplinar e passageira. Aliás, o mesmo Deus deu ordem a Moisés que adornasse a arca com imagens de anjos. Se os protestantes não têm outra coisa que nos exprobrar, calem-se; esta acusação cobre-os de ridículo.
É inegável a existência do perigo protestante no Brasil.
Não se deve, porém, temer exageradamente o protestantismo porque ele tem contra si a promessa feita por Cristo à sua Igreja e porque de sua natureza tende a se desagregar, dividir e multiplicar-se. Todas as tentativas de união serão sempre uma paródia da verdadeira união de fé. Ademais o Brasil nasceu, cresceu e vive ainda sob o bafejo santo da Igreja Católica e não quer ser ingrato às bênçãos celestes, simbolizadas pela constelação bendita do Cruzeiro do Sul. Não se deve, portanto, exagerar o perigo protestante.
Mas, doutra parte, não deve ser desprezado ou descurado.
A fé, na verdade, foi prometida à Igreja e não às nações; estas, como os indivíduos, a podem perder; e não padece dúvida que o protestantismo é um sério perigo que poderá ser grave se não se empregarem os remédios aptos e convenientes.
Não se devem desprezar os protestantes, porque são nossos irmãos transviados e cegos. Nem é tática bélica desprezar o inimigo, ainda que aparente fraquezas.
Se não se deve exagerar nem diminuir o perigo, é preciso considerá-lo em seu justo limite.
Daí a necessidade de um estudo leal e ponderado sobre as forças e elementos do protestantismo no Brasil. Quanto maior for o estudo, tanto melhor será o combate.
Devemos combater os protestantes:
Com grande caridade, muita paciência e ardente zelo pela sua conversão; com constante e sólida instrução, do povo nas verdades reveladas; com a prática das virtudes cristãs e com a frequência dos sacramentos; advertindo os fiéis dos enganos; dando bom exemplo; com o sacrifício e orações fervorosas para que todos sejam uma só coisa (Jo 17, 22).
O protestantismo foi fundado por Lutero. Quem era Lutero? Um frade que, depois de passar muitos anos no convento, deixou a vida religiosa, deixou seu hábito e... casou. Com quem? Com uma freira, chamada Catarina, que ele mesmo tirou do convento. Lutero viveu e morreu na crápula, na orgia, no escândalo. Julgai se Deus pode suscitar semelhante apóstolo para reformar a Igreja ou fundar uma nova religião.
Não discutamos com protestantes, não vamos ao seu culto, nem por curiosidade. Não leiamos suas bíblias, seus folhetos. É pecado mortal ter consigo uma bíblia protestante. Tudo isso expõe nossa fé a naufragar.


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As Portas do Inferno - Quinta Porta

Excerto do Livro
Pe. Guilherme Vaessen
Livro de 1953

Quinta Porta do Inferno
A Má Educação dos Filhos


Quantos pais se perdem e perdem a seus filhos porque não os educam no temor e
amor de Deus, não cumprindo os cinco deveres principais que lhes impõe a paternidade, o amor, a correção, a instrução, a vigilância e o bom exemplo.
Má pais que não amam os filhos como devem amá-los. Certos homens não merecem o belo título de pais. Desperdiçam no jogo, na bebida, na devassidão o dinheiro que ganham, deixando faltar aos filhos o estrito necessário. Pais monstruosos, piores que os irracionais, que sabem passar fome para dar de comer a seus filhos. Há mães que amam aos filhos, mas só a parte material, o corpo. Quanto à alma, pouco ou nada se ocupam dela. Adiam o batismo semanas e meses, deixando o filho entregue a Satanás e em perigo de morrer pagão. Quantas almas perdidas e quantas outras estragadas para sempre. Quanto mais Satanás se demora no coração do filho, mais o estraga. Toda a preocupação, todos os cuidados para com o corpo, até o luxo, até as modas mais indecentes, e quase nada para a alma.
Que será daquela filha a quem a mãe procura inspirar só vaidade, a quem fala só de beleza, a quem enfeita como uma divindade? Será uma moça vaidosa, orgulhosa. Ai do moço que a tomar por esposa, porque será uma esposa leviana, exigente, cuja paixão do luxo nada poderá satisfazer. Será daqui a pouco a desavença, a suspeita, a briga, o abandono, a ruína do lar.
Quantos pais, quantas mães mormente perdem a si mesmos porque não cumprem o dever da correção. O homem nasce inclinado ao vício, diz a Escritura. No coração da criança madrugam os maus instintos. Bem cedo é preciso reprimi-los, corrigir os filhos, dai a pouco será tarde, impossível.
Como corrigir? A força de gritos e descomposturas? Isso só serve para ensinar tudo quanto há de palavras feias. A força de pancadas? Isso avilta e embrutece. Em primeiro lugar é preciso avisar: — “Meu filho, não faças isso, não andes em tal companhia, não convém, não pode ser,  não consinto.” — Às vezes este aviso será suficiente. Em caso de reincidência na mesma falta, é necessário repreender energicamente e ameaçar e, enfim, no caso de nova reincidência, castigar severamente.
Até quando os pais têm obrigação de corrigir os filhos? Não se esqueçam que, enquanto filhos, não há grandes, nem velhos, não há filhos de barba branca. O filho, enquanto tiver filho, sempre será pai, e ai do pai que não avisa, repreende e corrige seu filho, e ai do filho que não atende às justas recomendações de seu pai.
Cedo também deve começar a instrução, porque tudo depende do começo, tudo depende pois, principalmente, da mãe. Feliz, mil vezes feliz quem teve uma mãe cristã e piedosa. Tal a mãe de S. Luís, rei da França. Tendo nos braços seu filhinho, dizia: “Meu filho, eu te amo muito, mas tu tens no céu um Pai, uma Mãe que te amam ainda mais; cuidado, não faças nada que possa ofendê-los, não cometas pecado. Antes quisera ver-te agora mesmo morrer em meus braços, que ver-te mais tarde, rei da França, cometer um só pecado mortal.” Mãe, o coração dessa criança, vosso filho, é um papel branco em que podeis escrever o que quiserdes. Gravai nele ódio ao pecado, amor a Deus, devoção a Maria Santíssima.
Ensinai e mandai ensinar-lhe o catecismo. É uma obrigação gravíssima. A mãe que não manda seu filho ao catecismo, onde é possível, é indigna de absolvição. Meninos e meninas de dez, doze anos, moços e moças que nunca apreenderam uma palavra de catecismo, nada sabem de religião e de suas obrigações, e por isso não se confessam, não comungam, vivem no pecado, é o que encontramos todos os dias. Os culpados são os pais. Quantas moças põem o pé no inferno no dia em que casam, porque assumem uma obrigação que são incapazes de cumprir, ensinar aos filhos a amarem e servirem a Deus. Que responsabilidade e como poderão salvar-se? Perdem a si e a seus filhos.
Mandai vossos filhos à escola, para que aprendam pelo menos a ler e escrever. Depois do pecado a coisa mais triste e funesta é a ignorância. Mas, cuidado! Vede bem que escola, que colégio, que mestres. Há escolas e colégios sem religião. Dali sairão vossos filhos sem fé e sem costumes. Não faltam as escolas e os colégios católicos. Vigilância neste ponto.
Vigilância em todos os sentidos. O maior bem que os pais possam deixar a seus filhos não são muitas riquezas, terras, dinheiro, mas a inocência e os bons costumes. Por isso seu grande empenho deve ser conservar-lhes este tesouro. Tarefa difícil em um mundo em que tudo é escândalo. Só uma grande vigilância. Os pais devem trazer os filhos presos debaixo de seus olhos. Sem esta sentinela de vista não escapam à corrupção. Vigilância, pais e mães, que vossos filhos não vejam nunca nada, nem em casa nem fora de casa, nem de dia nem de noite, nada capaz de ofender a inocência. Mas quantos pais, diz um santo, têm mais cuidado com seus animais, suas criações, que com seus filhos! Quantos pais deixam seus filhos andarem aonde e com quem querem, quantas mães deixam meninos e meninas brincarem longe de seus olhos. Quantas crianças saem de casa inocentes e voltam culpados; quantos moços e moças acham sua perdição em noites de festas, de volta por estradas escuras e desertas! Quantos desastres! Pais e mães, onde andam vossos filhos e filhas, que casa, que pessoas, que divertimentos frequentam? Examinai vossa consciência, condenai-vos, antes que Deus a examine e vos condene.
Se é um grande pecado dos pais não afastarem os filhos do pecado, é um crime enorme levá-los ao pecado pelo mau exemplo. Tal pai, tal filho; tal mãe, tal filha. Filho de peixe sabe nadar, diz o adágio. Nada mais eficazmente funesto que o mau exemplo dos pais. Os pais não rezam, o pai não se confessa, a mãe não vai à Missa aos domingos, os filhos hão de fatalmente imitar seu procedimento. Por que rezar? — disse um dia uma menina à sua professora — eu nunca vejo papai nem mamãe rezarem. Que dizer dos pais que oferecem aos filhos o espetáculo positivo do vício e do pecado, pais que se embriagam, brigam, blasfemam; certas mães cuja vida é o pecado... os filhos o sabem e se envergonham, o que não os impedirá de, mais tarde, trilharem o mesmo caminho.
Ai do homem, disse Jesus Cristo, que dá escândalo, isso é, dá mau exemplo”; por conseguinte, mil vezes ai dos pais que escandalizam seus filhos: “seria melhor lhes
amarrar ao pescoço uma pedra e serem lançados ao mar
.”
Maldito seja meu pai, disse um condenado à morte, à hora de subir ao cadafalso, a ele é que devo a minha desgraça; nunca me ensinou meus deveres para com Deus e os homens, deixou-me frequentar más companhias, deu-me em tudo o mau exemplo.” Faz horror pensar que no inferno muitos filhos amaldiçoam aos pais e muitos pais aos filhos, porque foram uns para outros causadores de sua condenação.
Pais e mães, amai a vossos filhos com amor cristão, educai-os no amor e temor de Deus, afastai-os do mal e dai-lhes em tudo o bom exemplo, e vossos filhos vos darão gosto, neste mundo serão vossa consolação e no outro vossa coroa.

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As Sete Portas do Inferno - Quarta Porta

Excerto do Livro
Pe. Guilherme Vaessen
Livro de 1953

Quarta Porta do Inferno
A Embriaguez




Não erreis: os bêbados não herdarão o reino de Deus”, diz S. Paulo. A embriaguez é um dos vícios mais vergonhosos e funestos. O seu efeito imediato é privar o homem do uso da razão e até de seus membros. Este pecado ultraja a Deus porque mancha e apaga no homem a imagem de Deus. Pela sua alma o homem é a imagem de Deus. Como Deus, a alma conhece, ama e quer. Vede agora o escravo da bebida. Onde está a imagem de Deus? O embriagado é incapaz de formar uma ideia. Semelhante ao animal, não é capaz de exprimir seu pensamento. Onde estão seus sentimentos? Só tem instinto de bruto. Onde está sua liberdade? Faz o que não quer e não faz o que quer. Chega a ponto de não poder ficar de pé, de não poder dirigir seus passos, de cair. Um dia, um bêbado caiu numa sarjeta. Chega um cão, olha, fareja-o festejando-o com a cauda. O cachorro parecia satisfeito por encontrar um colega. Mas depois o cachorro foi-se embora, e o bêbado ficou deitado na lama, porque não podia arredar-se do lugar. Deus fez o homem grande, diz a Escritura, mas, pelo vício, o homem nivelou-se ao bruto.
O alcoólico é inimigo de sua alma, porque calca aos pés todos os mandamentos da lei de Deus. Amai a Deus sobre todas as coisas, diz o primeiro mandamento. O escravo da embriaguez é do número daqueles que S. Paulo estigmatiza, quando diz: “Seu ventre é seu Deus”. O bêbado blasfema frequentemente, roga pragas, jura falso, profana o dia do Senhor, é mau filho, mau pai, mau esposo, briga, fere, às vezes mata. Como é raro dois embriagados separarem-se sem trocar uns murros e se estragar a cara.
Quanto ao sexto mandamento, são obscenidades de toda espécie, pensamentos, desejos, palavras, olhares, ações, brutalidades que os próprios irracionais ignoram. No vinho está a luxúria, diz o Espírito Santo.
O alcoólico é inimigo de seu corpo. O álcool é um veneno, acaba sempre por estragar e matar. Exerce um efeito funesto sobre o estômago, o coração, os rins. Os médicos contam até vinte doenças quase todas mortais, causadas pelo álcool. De 120.000 pessoas que morrem cada dia, 20.000 morrem diretamente pelos excessos alcoólicos.
O alcoólico é inimigo de sua família. Uma boa moça regozijava-se na doce esperança de em breve achar-se ao lado de um moço, o preferido do seu coração, para levar com ele uma vida cheia de alegria e de felicidade. Por ele deixou pai e mãe, a ele dá sua mocidade, seu coração, suas forças, seu trabalho, sua vida. E o moço lhe promete torná-la feliz, promete-o, jura-o, até, ao pé do altar. E, agora, escravo da embriaguez chega em casa bêbado, envergonha sua esposa, a contrista, a descompõe, a maltrata, e, às vezes, deixa-lhe faltar o estrito necessário. Que ingratidão, que traição!
Este pecado levanta contra ele um brado de maldição, arrancado de um coração esmagado. O eco desta maldição subirá até ao trono de Deus, para bradar vingança contra o violador do amor conjugal.
Mau esposo, talvez pai pior ainda. Filhos idiotas, raquíticos, epilépticos, eis, geralmente, a descendência do alcoólico. E estas pobres criaturas geralmente nascem predispostas ao vício. O fruto não cai longe da árvore, diziam os antigos. Que educação dará aliás tal pai a seus filhos? Que ouvem os filhos? Palavras obscenas, conversas ímpias. Que veem? brigas, escândalos. Pai miserável, que responderás no dia do juízo, quando Deus te perguntar qual o exemplo que deste a teus filhos?
Renunciai ao vício, cristãos, e gozareis as satisfações da virtude e da abundância, os encantos da vida de família, tão puros e tão santos. Que alegria ver-se objeto da afeição de uma esposa, ter filhos sadios e bem educados!
Fugi, pois, do maldito vício da embriaguez. Rezai, frequentai os sacramentos, afastai-vos da ocasião, principalmente, lembrai-vos da palavra de S. Paulo: “Os bebedores
não entrarão no céu
”.



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As Sete Portas do Inferno - Terceira Porta

Excerto do Livro
Pe. Guilherme Vaessen
Livro de 1953

Terceira Porta do Inferno
A Profanação do Dia do Senhor


A santificação do domingo comporta duas coisas: a cessação do trabalho e a oração.
Aos domingos não se pode trabalhar sem necessidade ou por motivo justo: “Trabalhareis durante seis dias, disse outrora Deus aos israelitas, mas ao sétimo dia não fareis nenhum trabalho, nem vós nem vossos servos”. Trabalhar aos domingos é, pois, uma desobediência formal a Deus.
O trabalho do domingo é um desastre para o corpo, para a alma e mesmo para a
fortuna.
As máquinas de bronze e de aço não podem trabalhar semanas e meses seguidos. Forçosamente, de quando em vez, é preciso pararem, repousarem, senão arrebentam. Não somos de bronze nem de aço, somos de carne. Sem o repouso de oito em oito dias, dizem os sábios, os homens abreviam consideravelmente sua vida.
Quereis ver um povo sadio, forte, alegre? Vede as nações que respeitam o domingo. Quereis ver um povo doentio, fraco? Considerai os países em que o dia do Senhor é profanado.
Quanto à alma, o trabalho ao domingo faz que o homem nem se lembre dela. Quem trabalha sem cessar torna-se material como a terra que cultiva, como as máquinas que maneja, torna-se um animal, um bruto.
Notou-se que os revolucionários, os criminosos têm-se recrutado principalmente entre os profanadores do domingo.
Afinal nossos interesses temporais pedem que santifiquemos o domingo.
Se Deus não constrói a casa, diz o profeta, em vão trabalham os que a edificam.
O trabalho ao domingo é como o bem mal adquirido, atrasa. Deus não engana. Ora, disse aos judeus: “Guardareis o dia do Senhor e respeitareis meu santuário: se fizerdes estas coisas, eu vos darei as vossas chuvas a seu tempo e a terra e as árvores darão o seu fruto; comereis o vosso pão a fartar e habitareis seguros em vossa terra. Se, pelo contrário, rejeitardes meus mandamentos, visitar-vos-ei em minha cólera, vossas árvores, vossos campos, não darão seu fruto, farei que o céu seja como ferro e a terra como bronze, plantareis debalde a vossa semente e vossos inimigos a comerão, as feras devorarão vosso gado, mandarei a peste, a guerra, a fome”. Repousemos, pois, ao domingo e santifiquemos este dia pela oração.
A oração obrigatória é a Santa Missa, para quem não tem um motivo justo de dispensa. Estes motivos são os seguintes: doenças, cuidados de crianças ou de doentes, grande distância da igreja (mais de uma hora de caminho, a pé), falta de companhia para senhoras, pobreza tal que a gente não possa se apresentar na igreja sem se envergonhar.
As mães que têm crianças pequenas, procurem alguém que possa substituí-las, para que, pelo menos de vez em quando, possam ouvir a Santa Missa.
Não esqueçamos que faltar à Missa por descuido, por preguiça, é pecado grave. Mau sinal, péssimo sinal, perder a Missa aos domingos. Enquanto o homem aos domingos veste a roupa limpa, toma o caminho da igreja, assiste ao santo sacrifício, ouve a palavra de Deus, há esperança. Embora este homem se tenha desviado de Deus, um dia voltará para ele.
Mas, quando o homem chegou a este ponto de embrutecimento que não faz mais distinção entre dia de serviço e dia de domingo, não há mais esperança. Não é mais cristão, não é mais homem, é animal. É a perda da alma, é o inferno.
Que dizer agora dos que não só profanam o dia do Senhor pelo trabalho e a perda de Missa, senão pelo pecado propriamente dito. Infelizmente, para muitos, o domingo é o dia do pecado, da embriaguez, do jogo, do escândalo.
Que crime! Roubar a Deus o dia que ele reservou para sua glória e para nossa salvação, e consagrá-lo a Satanás pelo pecado!
O que digo do domingo, digo-o das festas que, muitas vezes, em lugar de serem festas dos santos, são festas do demônio, pela devassidão. Assim é que outrora os judeus celebravam os domingos e as festas e por isso Deus lhes disse: “Eu tenho horror de vossas festas, lançar-vos-ei em rosto as imundícies de vossas solenidades”. O que Nossa Senhora e os santos esperam de nós nos seus dias de festas não são músicas, foguetes, danças, jogos, orgias, mas orações fervorosas, confissão, comunhão. Só assim nos tornamos merecedores de seus favores.

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